Neste artigo, discuto opiniões e tendências sobre as variáveis intervenientes sociais e familiares em relação aos sintomas de depressão em mulheres portadoras de Lupus Eritematoso Sistêmico. Tomei como referência central um artigo (abaixo referido) e seus resultados, que, embora estudado em uma amostra parcial, pode ser um ponto para o debate. Além dessa referência central, tomei como eixos os enunciados do Sociedade Brasileira de Reumatologia, que dispões de várias matérias e discussões sobre o assunto, bem assim de outros temas abordados no eixo “Psicologia, Saúde & Doença” da plataforma Scielo Portugal, versão impressa ISSN 1645-0086)
Feitas as referências autorais e respeito aos estudos científicos, segue um sintético artigo de minha autoria sobre o tema proposto.
Na nossa amostra, a maioria declarou-se casada, resultado semelhante a outros estudos. Estar em união conjugal aparece como fator de proteção, pois pacientes com LES separados, divorciados e viúvos são mais propensos à ideação suicida. A escolaridade também foi associada a maior atividade da doença e adesão ao tratamento. O baixo estatuto socioeconómico está associado a uma menor qualidade de vida e a uma elevada actividade de doença. Em estudo realizado na Jamaica, um dos fatores que influenciaram a baixa adesão aos medicamentos em um grupo de pacientes com LES foi o seu alto custo e baixa disponibilidade. Levanta-se a hipótese de que uma baixa condição socioeconômica pode afetar negativamente a continuidade do tratamento em geral.
No Brasil, esse tema deve ser considerado porque o SUS não consegue dar o suporte ininterrupto necessário, custeando o tratamento e influenciando na adesão terapêutica. Esse achado é preocupante, visto que o tratamento do LES acarreta elevados custos financeiros para o paciente. Em relação à religiosidade, a maioria dos pacientes que participaram do estudo afirmou possuir alguma religião. No presente estudo, 53,17% dos participantes apresentaram níveis de sintomas depressivos variando de leve a grave. Na literatura especializada, a prevalência de depressão em pacientes com LES varia entre os estudos. Os diferentes resultados nos mais variados estudos ao redor do mundo podem ser influenciados pelo tamanho da amostra, período da doença (remissão ou ativa) e método utilizado. Os sintomas autorreferidos mais comuns pelos pacientes foram: fraqueza e fadiga (88,2%), seguidos de irritabilidade (82,3%) e tristeza (77,6%). Em nosso estudo foram irritação (45,57%), fadiga (41,77%) e preocupação somática (46,84%). No Irã, a ideação suicida foi de 10,5%, enquanto no presente estudo foi menor, de 8,86%. Mok e colaboradores (2014) argumentam que esse sintoma está mais presente em pacientes com sintomas depressivos que passaram recentemente por situações difíceis. Os pacientes relataram sentir-se deprimidos porque se percebiam como diferentes em relação a como se sentiam antes da doença. Somado a isso, o estresse de ter uma doença crônica aliado à falta de apoio social, dor e incapacidade, bem como ao uso de alguns tipos de medicamentos, podem estar relacionados a altos índices de sintomas depressivos. Nos estudos disponíveis sobre apoio social em pacientes com LES, foi encontrada diversidade de resultados. Em algumas amostras o apoio foi baixo e em outras alto. Isso pode estar relacionado, como nos estudos sobre depressão, ao tamanho da amostra, à metodologia, aos instrumentos de pesquisa, às diferenças socioculturais, entre outros fatores.
O apoio social atuou como fator de proteção para a população estudada, embora nossos índices de sintomas depressivos tenham sido elevados. Indivíduos que têm níveis mais elevados de apoio social percebido podem gerir a situação de forma eficaz, mesmo em tempos difíceis. Estudo realizado com pacientes chineses comparou a percepção de apoio social entre um grupo com LES e outro grupo de pessoas saudáveis. Os resultados mostraram que os pacientes com LES tinham pior apoio social. O apoio social desempenha um papel importante no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento, gestão do LES e da depressão em mulheres afro-americanas. DiMatteo (2004) sugeriu que a adesão ao tratamento é maior em pacientes que possuem altos níveis de Apoio Social. O teste de Friedman mostrou diferenças significativas entre as formas de apoio, sendo o apoio material e afetivo significativamente maiores que os demais. Apoio emocional são as expressões de sentimento, compreensão e confiança. O suporte de informação é a disponibilidade de pessoas para obter aconselhamento e orientação. A interação social positiva, que se refere à disposição das pessoas para se divertir e relaxar, também apresentou índices elevados na percepção dos pacientes. Vale lembrar que quando foi solicitado às mulheres que dessem nota de 1 a 10 para família, amigos, sistema de saúde, companheiro e município. Os pacientes com LES necessitam de uma rede de relacionamentos interpessoais para apoio emocional e ajuda prática durante os períodos mais difíceis da doença. Os familiares devem estar cientes de quando oferecer ajuda e quando recusar. A ideia de apoio como uma “faca de dois gumes” ainda não foi investigada em pacientes com LES. O presente estudo mostrou alta prevalência de sintomas depressivos em pacientes com LES. Esse resultado reforça a importância da construção de políticas públicas no Brasil que garantam, principalmente, o diagnóstico correto, o acesso ao tratamento adequado e completo com fornecimento de medicamentos, exames e consultas pelo SUS. Mais estudos são necessários para compreender o tipo de depressão, subconjunto de sintomas, impacto da ideação suicida e sua relação com a atividade da doença no LES. Os grupos de apoio podem ser criados e geridos dentro da instituição de saúde. Esses grupos podem ajudar os pacientes a enfrentar problemas que podem estar contribuindo para o surgimento e manutenção dos sintomas.
O apoio social é uma construção complexa e multifacetada, ainda pouco investigada em pacientes com LES. Estudar este tema é importante para desenhar e implementar intervenções que enfoquem o apoio social para melhorar a saúde. Grupos de apoio na comunidade também podem atuar como apoio aos pacientes, contribuindo para uma melhor educação em saúde para o LES, reduzindo o isolamento dos pacientes e facilitando uma maior coordenação de encaminhamentos. Os resultados devem ser interpretados com cautela. Os dados aqui apresentados foram autorreferidos, o que pode interferir nos resultados, uma vez que a percepção de um paciente com sintomas depressivos pode mudar. Infelizmente, os psicólogos ainda não estão significativamente interessados em publicar estudos nesta área, especificamente quando se trata de práticas interventivas.
FONTES: http://www.scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-00862017000100004&lang=pt, https://www.reumatologia.org.br/doencas-reumaticas/lupus-eritematoso-sistemico-les/, https://www.facebook.com/falandodelupus/